Cadeia fria: Como mudar do modal aéreo para o marítimo de forma simples e segura

Se tem algo que a pandemia de covid-19 fez foi diminuir a oferta de serviços de transporte nos modais aéreos e marítimos de qualquer lugar do mundo. Com o acúmulo de cargas desde meados de 2020 pelo mundo precisando ser escoadas, a volta à normalidade dos serviços não acontecerá antes de 2024, afirmam especialistas.

Com a diminuição da oferta e aumento de demanda global, “os níveis de fretes aéreos para produtos farmacêuticos aumentaram ao menos 10 vezes”, de acordo com Nelson Mussolini, presidente do Sindusfarma em entrevista para o Valor Econômico. “Um frete da China para o Brasil custava US$ 1 por quilo de IFA, agora as empresas pagam cerca de US$ 10 pelo mesmo quilo importado”, completa o executivo que representa as indústrias farmacêuticas no Brasil.

Considerando o aumento do frete, diversas empresas iniciaram o trabalho de adaptar seus processos para utilizar o transporte marítimo, em vez do aéreo como faziam até agora, com a esperança de reduzir os custos o que é possível, mas precisa de alguns cuidados, que explicarei aqui.

Qual a vantagem dos aéreos?

Tudo que o transporte aéreo tem de rápido, ele tem de caro, isso é sabido, contudo, o que menos se menciona, principalmente nas áreas de comércio exterior das empresas que atuam no mercado de saúde, é que o transporte por vias aéreas serve para reduzir o risco de exposição de uma carga e para que quando haja, este seja pelo menor tempo possível.

É pelo motivo acima que se trabalha incansavelmente em soluções ativas e passivas cada vez mais robustas, tornando a quebra de uma cadeia fria cada vez menos possível, ainda que muitas vezes acabe encarecendo a operação como um todo.

á de se considerar ainda, que o modal aéreo é dinâmico, com tempo de trânsito curto, quando contratado de maneira correta, e com decisão rápida, ou seja, pode-se contratar um frete internacional para uma carga ser importada de avião hoje e tornar possível sua chegada amanhã, por exemplo, as a preços exorbitantes.

Qual a alternativa?

Se a produção estiver em dia, a qualificação de rota for bem-feita, o armador (dono do navio) e o agente de carga forem especialistas no transporte de medicamentos, é bastante possível uma operação de cargas farmacêuticas, acabadas ou não – inclusive biológicas – em modal marítimo com segurança e muito mais competitividade.

Para isso o contratante deve se atentar aos seguintes detalhes:

Quem contratar?

Aqui não há atalho. Contrate apenas empresas certificadas internacionalmente, qualificadas de acordo com a RDC mais atual (430/20 no momento) e não abra exceções, pois é aí que está o perigo. Aventureiros buscam acessar o mercado farmacêutico todos os dias e eles colocam em risco a sua carga, a integridade do paciente e até a saúde pública.

Quais são os riscos?

O principal fator no momento de realizar sua gestão de risco será analisar quais os momentos em que a carga irá ficar sem refrigeração, por quanto tempo o contêiner irá manter a carga refrigerada sem que haja manutenção do frio e se todos os envolvidos estão treinados para tomar ações de contingências no momento da crise.

A troca de modal certamente também é no marítimo um ponto crítico. O exportador terá que ter uma antecâmara que caiba um contêiner de 40 pés, e caso não tenha, a carga deverá ser coletada solta em caminhão refrigerado na origem, levada à um armazém certificado localmente par trabalhar com medicamentos, o contêiner terá que ser coletado no porto, pré-condicionado e levado ao terminal onde a carga está para a estufagem em câmara fria, e tudo isso precisa ser qualificado por sua área de qualidade, que terá que garantir que o contratado (transportador) siga desta mesma forma em todos os processos.

Como qualificar?

Quando o agente de cargas é especialista, ele terá acesso a uma vertical dentro das companhias marítimas especializada em mercado de saúde e elas possuem documentos de qualificação dos contêineres para atender grandes importadores e exportadores globais deste seguimento.
Estes documentos, quando robustos, são o pontapé inicial para que sua empresa qualifique a rota no modal marítimo, sendo possível, inclusive, registrar produtos para que sejam transportados já neste modal. Aqui repito, não se aventure, poucos atuantes do mercado de transporte possuem acesso a este acervo e poucos agentes de carga conseguem dar suporte para que a farmacêutica consiga atender o guia de qualificação de transportes da Anvisa.

Custo-benefício

Se há um ponto negativo no transporte marítimo de produtos farmacêutico é o tempo de trânsito total (lead time), já que parte em média de 15 a 20 dias, podendo chegar até em 50 ou 60 dias, então, planejamento é crucial.

Em contrapartida, um contêiner consegue carregar até 30 toneladas de carga refrigerada. Numa conta rápida, o frete marítimo de porta a porta representa aproximadamente 8% do mesmo frete no modal aéreo, também porta a porta, sem comprometer a qualidade.

Se atente aos detalhes

Ao analisar se para sua empresa faz sentido a mudança de modal de transporte, verifique cada ponto da operação, se o contêiner coletado será de fato o contratado, se o armador disponibilizará os dados de leitura do termômetro fixo do contêiner, se o agente na origem é certificado, se os terminais de origem, destino e transbordo possuem tomadas suficientes para manter o contêiner plugado e quanto tempo leva para colocar o contêiner dentro do navio e ligá-lo novamente, por exemplo. Não economize nos detalhes.

Conclusão

É sabido que o frete possui um peso considerável sobre os produtos importados e que com o avento da crise sanitária este custo ficou ainda mais expressivo. O modal aéreo possui diversos pontos positivos, mas o preço é fator decisivo para manter uma operação neste modelo.
Não havendo previsão de normalidade para que os níveis de frete se estabilizem, a alternativa que fica ao importador é buscar métodos seguros para que possa transformar o máximo possível da sua operação em cargas marítimas, utilizando métodos robustos de qualificação e planos de contingência bem definidos, evitando que o barato saia caro.

 

 

*Informações sobre direitos autorais: O nome comercial da AGL CARGO, o logotipo e todos os produtos ou marcas de design relacionados são propriedade da AGL CARGO e não podem ser usados (reprodução ou distribuição de qualquer material) sem a aprovação por escrito da AGL CARGO.

**Limitação de responsabilidade: O material no site da AGL CARGO refere-se a uma opinião interpretativa, a AGL CARGO não será responsável pelas consequências de quaisquer ações que você possa tomar com base nas informações obtidas no site em questão.

 

Mais notícias

A navegação de cabotagem no Brasil

A cabotagem é uma modalidade de transporte que, apesar de ainda não ser tão conhecida quanto outros modais, vem ganhando força devido às vantagens que oferece, sendo uma alternativa ao transporte rodoviário de longas distâncias. O Brasil possui forte potencial geográfico para a cabotagem, por conta do extenso litoral e hidrovias. Com este modal, é […]

Entenda sobre a exportação de açúcar, um produto que faz parte da história do Brasil

O açúcar movimenta a balança comercial brasileira há 500 anos, e o setor de cana-de-açúcar é responsável por 2% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Presente na história do Brasil desde a época colonial, o açúcar ganhou força no último século, com o país se consolidando como o maior exportador de açúcar do mundo, hoje […]

O comércio exterior da indústria aeronáutica brasileira

O Brasil tem uma ligação histórica com o setor aeronáutico. Em 1709, Bartolomeu de Gusmão criou o balão de ar quente; em 1901, Santos Dumont realizou com seu dirigível o primeiro voo controlado da história ao redor da Torre Eiffel, e cinco anos depois pilotou o 14-Bis. Embora tenham sido brasileiros os pioneiros da aviação, […]

A carne bovina brasileira no mercado internacional

A pecuária brasileira começou no século XVI, quando foi estabelecida no interior do Estado. Essa localização longe do litoral foi estratégica para evitar interferências com a produção de cana-de-açúcar no Nordeste do país. Com o tempo, esse segmento expandiu, e o setor produtivo da carne bovina atualmente, além de abastecer o mercado nacional, alcança mais […]